TODOS OS DIAS EXISTEM SEGREDOS ESCONDIDOS EM CADA INSTANTE DE NOSSA EXISTÊNCIA.

AQUI SERÁ POSSÍVEL ENCONTRAR ALGUNS DELES...

sábado, 27 de março de 2010

TEXTO DO DIA - ABRA AS JANELAS PARA OLHAR A VIDA

A rotina facilita as coisas. A mesmice do cotidiano torna a vida mais previsível, estável e segura. Isto é, ela tem lá suas vantagens. O problema é que o excesso de hábitos pode asfixiar, além de tirar nossa capacidade de renovação e transformação. E isso traz conseqüências sérias. Uma rotina de muito trabalho, por exemplo, pode levar à ausência de novos relacionamentos e à falta de vontade de se arriscar.

Sair dessa toada, que o cantor e compositor Chico Buarque imortalizou no verso: “Todo dia ela faz tudo sempre igual”, demanda certo grau de vontade e uma boa dose de percepção de seu momento de vida. O que ganhamos ao arriscar e experimentar mudanças – das pequeninas às radicais? A gente inova a vida e percebe que nossos horizontes são bem mais amplos. No início, até dá um desconforto, mas vale a pena quando os caminhos se abrem.

A atriz de teatro Christiane Tricerri conta sua experiência. As peças em que atua costumam ficar de um a dois anos em cartaz. Isso significa repetir o mesmo texto e as mesmas cenas diariamente, às vezes duas vezes por dia. Além disso, ela também está no mesmo grupo teatral, o Ornitorrinco, há 31 anos. Apesar dessa longa continuidade em seu trabalho, Christiane se sente capaz de reinventar o dia-a-dia. “Claro, é preciso um esforço sobressalente para tirar as falas do automático. Mas compensa”, diz ela, que iniciou uma nova temporada com a peça A Megera Domada, de William Shakespeare.

O que Christiane Tricerri fala é fundamental: é possível fazer algo repetitivo sem cair na rotina. As mudanças ficam por conta dos detalhes, das filigranas e, convenhamos, muitas vezes são as pequenas transformações que alteram a existência. “Às vezes, também mudo radicalmente, já que uma peça não fica em cartaz para sempre. Tudo o que a gente faz com amor tem vida, não importa por quanto tempo dure. O cotidiano, qualquer que seja ele, se modifica quando é vivenciado intensamente”, afirma.

Bom, não é? Conceber o cotidiano de outra forma, com mais paixão e brilho, traz mais graça à vida. Essa mudança de horizontes promove relacionamentos, dá mais alegria e favorece novas oportunidades. E se é possível reinventar o cotidiano sempre, isso também significa que não é preciso necessariamente acabar de vez com o que você já vinha fazendo antes, mas experimentar tudo de um jeito diferente. Essa é uma bela maneira de quebrar os hábitos rotineiros. A outra possibilidade de mudança, mais radical, é procurar alterar profundamente a realidade, trocar de atividade, finalizar ciclos, mudar até de cidade ou país. Tanto de um jeito como de outro, é preciso buscar energia para chegar lá.

FORÇA PARA MUDAR
Quando decidimos arregaçar as mangas e acabar de uma vez por todas com um cotidiano que está nos fazendo mal, parece que o Universo inteiro resiste. E é assim mesmo, não é só impressão. Esta é uma regra básica que faz parte da realidade do planeta: diante da força de qualquer ação, opõe-se naturalmente uma resistência. Ou, em outras palavras, não basta apenas decidir quebrar a ro tina para que, magicamente, as coi sas entrem em seu lugar e mudem de acordo com nossa vontade. Se fosse assim, seria fácil. Mas há um choque invisível de forças em jogo. Portanto, antes de qualquer ação, vale a pena conhecer como fun ciona o jogo e quais suas regras.

Na física, existe a Lei da Inércia, que tem tudo a ver com a rotina. Ela diz que as coisas que seguem numa determinada direção naturalmente tendem a continuar o movimento se não forem interrompidas. Isto é, existe uma força que impele as coisas a se manterem do jeito que estão. Aplicada a nossa realidade, significa: para mudar, é necessário vencer uma força que empurra na direção da mesmice. “A Lei da Inércia aponta para a dificuldade de interromper o movimento de um corpo. Se o corpo estiver parado, você vai ter de romper sua resistência para fazê-lo andar. Se estiver em movimento, a tendência será continuar na direção e na velocidade que já vinha vindo” diz José Carlos Garcia, professor de física do Curso e Colégio Objetivo, de São Paulo.

Isso explica por que às vezes não saímos da teoria, ou da decisão de quebrar a rotina, para a prática: fica difícil reconhecer que, para interromper uma força, é preciso outra igualmente poderosa na direção contrária. Lembra a brincadeira do cabo-de-guerra? É mais ou menos isso. Algumas crianças puxam a corda de um lado, enquanto outras puxam a mesma corda de outro. Ganha quem tem mais força. Ora, o que acontece se você entra na brincadeira decidida a puxar a corda em sua direção sem saber que há uma força puxando ao contrário? O puxão do outro lado vai desequilibrar e jogá-la no chão. Simples: sem saber como é o jogo, o outro lado vence.

Outro ponto interessantíssimo que a física ensina, ainda dentro da Lei da Inércia: quanto maior esse corpo que você quer movimentar, mais difícil será movê-lo. “É muito mais fácil tirar uma moto do lugar do que um ônibus”, exemplifica o professor José Carlos. Quanto mais a rotina está instalada, quanto mais ela for complexa e abrangente, mais força você irá precisar para demovê-la. Mas, nesse caso, já se tem uma vantagem: você vai saber disso e pode se preparar melhor para vencer a resistência que está ali.

Um jeito inteligente de driblar essa resistência é unir diversas forças, e não apenas uma, para combatê-la. É muito mais fácil quebrar a rotina, por exemplo, se você tiver aliados: uma amiga, ou um grupo de amigos, para fazer uma caminhada, um curso, ou ajudá-la a planejar as mudanças que você pretende imprimir em sua vida. As coisas ficam mais fáceis quando são feitas a dois, seja um parceiro, seja um amigo.

Na prática
Mudanças de leves a moderadas
São as que não implicam em decisões graves que possam afetar profundamente sua vida. Isto é, o cotidiano não muda muito, mas a maneira de vivê-lo. As medidas vão desde fazer compras em outros supermercados, programar pequenas viagens, experimentar comidas exóticas e até provar roupas que você, normalmente, não compraria. O importante é se permitir novas experiências, sem críticas.

Mudanças radicais
Estão entre elas mudanças de emprego, atividade ou parceiro, transferências para outra cidade ou país e fechamento consciente de ciclos que se exauriram. Para efetuar uma mudança radical, é preciso de muita clareza de pensamento, planejamento, força física e psicológica para executar seu projeto, a ajuda de amigos ou terapeuta e a decisão firme de manter os objetivos até o fim.

Cinco elementos que põem o corpo em equilíbrio
A tradicional medicina chinesa apregoa que o desequilíbrio de um dos elementos formadores de nossa energia vital – são cinco, no total – pode roubar força quando o objetivo é quebrar a rotina. É o que explica Wagner Canalonga, regente da Sociedade Taoísta do Brasil, em São Paulo, que mantém cursos para o equilíbrio da vitalidade. Isso pode acontecer quando estamos com o excesso ou mesmo a falta de um desses elementos (madeira, fogo, metal, terra e água), o que costuma se traduzir em diversos comportamentos, como agressividade, preguiça etc. Vale saber que temos todos os elementos em nós e o equilíbrio acontece, segundo o olhar da filosofia chinesa, quando os cinco estão em sintonia. Abaixo, você identifica quais são os sinais de que algum deles está em desequilíbrio. A solução vem pela própria medicina chinesa – pela acupuntura, pela meditação ou pelos chás de ervas medicinais.

1 MADEIRA
O elemento remete à primavera, época em que tudo se inicia. Está ligado à força para seguir com novos projetos e propostas. Raiva é a energia negativa relacionada ao elemento.
EXCESSO Pode deixar a pessoa excessivamente agitada, agressiva e sujeita a explosões de ira. Tenderá a tocar vários projetos de uma só vez. Também predispõe a certa tensão e para o excesso de trabalho.
FALTA Dá letargia. A pessoa tem dificuldade de colocar idéias em prática ou executar um planejamento. Existe pouca coragem e iniciativa para concretizar mudanças.

2 FOGO
Está relacionado ao verão. É o elemento fogo que nos impulsiona a alcançar a fama e o sucesso nas empreitadas. Euforia é a emoção negativa associada a esse elemento.
EXCESSO Arroubos exagerados de otimismo podem indicar desequilíbrio. Quando em harmonia, o elemento gera a alegria, sem excessos.
FALTA A pessoa pode até planejar bem ou executar, mas faltam-lhe iniciativa, entusiasmo e paixão. Com isso, consegue poucos seguidores de suas idéias e tende a fazer tudo sozinha. Pode se mostrar muito desanimada com as dificuldades.

3 TERRA
Corresponde ao fim da primavera e ao começo do outono: representa a sustentação e a estabilidade para decidir algo ou executar um projeto, por exemplo. Preocupação é a energia negativa associada ao elemento.
EXCESSO A pessoa pode se tornar um trator, não olhando quem está na frente e derrubando quem se interpor a sua vontade. Pode gerar intransigência e ânsia para controlar tudo e todos. Há muita preocupação.
FALTA Produz lentidão, atraso, ausência de força de vontade e desejo de desistir à menor dificuldade. E muita preguiça de corrigir o rumo.

4 METAL
Simboliza o fim do outono e o começo do inverno. Está relacionado com a disciplina, a capacidade de planejamento e avaliação. Tristeza é a emoção associada ao metal.
EXCESSO Introspecção, passividade ou melancolia. A pessoa tem, por exemplo, dificuldade de implantar projetos e levá-los adiante. Costuma se tornar ríspida no trato com o outro.
FALTA Dificuldade em ter um olhar mais global para as situações. Ao contrário, tende a se fixar apenas nos detalhes, o que pode levar a uma visão incompleta das coisas. Há a tendência para a depressão.

5 ÁGUA
Diz respeito ao inverno: representa as emoções, o inconsciente. Medo é a energia negativa ligada ao elemento.
EXCESSO Gera o sentimento do temor em demasia e cansaço, com pouca energia vital. É comum a pessoa ter medo de se expor e se arriscar. Ela também pode se tornar demasiadamente flexível só porque tem medo de enfrentar as situações.
FALTA Tendência a se arriscar, sem medir muito as conseqüências. As pessoas que carecem do elemento água também costumam começar projetos e mais projetos e nunca terminam aquilo a que se propõem.

Bússola da vida
Um dos melhores recursos para avaliar uma situação de maneira integral foi criado pelo filósofo americano Ken Wilber. Há três décadas, em seu Instituto Integral, nos Estados Unidos, ele procura sintetizar o conhecimento do Oriente e do Ocidente e desenvolveu ferramentas que podem nos ajudar a localizar as travas impeditivas para uma mudança na rotina. “Esses quatro quadrantes nos auxiliam a enxergar uma situação de todos os ângulos, pois eles abrangem desde o nível pessoal até a herança cultural, social e ambiental”, diz o professor Ary Rainsford, que dá aulas sobre Wilber no Brasil. Veja como, baseadas na análise desses pontos, as mudanças poderão ser feitas de maneira mais consciente.

É assim: desenhe um círculo e o divida em quatro partes. No primeiro quadrante superior (à esquerda), coloque as palavras Eu Exterior. Ao lado, no quadrante da direita, Eu Interior. No quadrante de baixo, à esquerda, Influência Social e Cultural e, à direita, Influência Ambiental. Agora vamos ver o que quer dizer cada um deles e como eles podem ajudá-la nessa alteração de rumo.

Eu Exterior
Este quadrante do círculo está ligado a como cada um se relaciona com seu físico (compleição, alimentação, exercícios). Você pode se perguntar como acredita que os outros lhe vêem e como você mesma encara seu corpo (está satisfeita ou não). Comece a planejar o que você pode fazer para mudar tudo o que tanto incomoda. Mas atenção: nada de se exceder nas cobranças para ter um corpo perfeito. A melhora no aspecto físico é sempre bem-vinda. Só não exagere na autocrítica, já que muitas vezes tal atitude pode impedir você de sair, passear e conhecer pessoas.

Eu Interior
Fala das emoções. Você pode vasculhar, por exemplo, o que a impede de ampliar o círculo de amizades ou curtir o amor. Você se julga incapaz de despertar o desejo de alguém? Tem receio de ser magoada? Está esperando o que para se arriscar? São perguntas difíceis de se fazer e com respostas nem sempre fáceis de assumir. Todos nós, em maior ou menor grau, queremos ser o máximo. Será que não dá para sussurrar baixinho para você mesma um “menos, menos”? Aceite mais seus limites, assuma que não se pode agradar a todo mundo e que ninguém pode ser o máximo em tudo.

Influência Ambiental
Ambiente é a casa, a rua, a comunidade e a natureza. Mas como isso poderia se associar aos relacionamentos? Imagine alguém que passou os últimos anos investindo na reforma da casa – na construção de um ninho confortável, doce, desses do qual não dá vontade de sair. Fazer isso é como tecer um casulo. E ele é benéfico por um tempo, quando se quer reestruturar a vida, por exemplo. Depois, não. Asfixia. É bom ter construído um casulo para se transformar, mas agora já está mais do que na hora de voar e sair para o mundo.

Influência Social e Cultural
Este quadrante fala das referências culturais. Disponha suas inquietações nesta área. Por exemplo: falamos de uma mulher com mais de 35 anos em crise com a profissão. Para ela, boas perguntas são: em que áreas profissionais minha idade e experiência contam como vantagem? Que tipo de pessoa se interessa por mulheres maduras? Homens mais jovens, por que não? E, principalmente, o que eu devo mudar para conquistar novos parâmetros? Assim você já está a meio caminho de vencer as resistências para uma mudança na rotina.

Mudanças em ação
1 Faça uma lista com suas resoluções e um cronograma aproximado do cumprimento da tarefa. Confira a cada semana o que você escreveu para ver se está seguindo seu programa.

2 Verifique como anda sua energia de acordo com os preceitos da medicina tradicional chinesa, por exemplo, e tome providências em relação a consultas, cursos e dietas especiais para equilibrar sua força.

3 Pense em quem pode ajudá-la a cumprir suas tarefas: família, amigos. Você não está sozinha nessa empreitada.

4 Experimente um ótimo exercício para colocar mais paixão em seu dia-a-dia: entre em contato com a liberdade do corpo. Por exemplo, sempre que puder, corra livre por uma praia ou, quem sabe, dance sozinha na sala, com movimentos espontâneos. Quando parar, respire profundamente, enchendo os pulmões de ar, por algumas vezes seguidas. Sinta que está sorvendo a vida e sinta-se integrada com a natureza a seu redor, como se tivesse se libertado de couraças asfixiantes. Entre em contato com seu lado livre e também selvagem. É inevitável: você termina o exercício feliz – e sorrindo.
Texto de Liane Alves - retirado da Revista Bons Fluídos
site: http://bonsfluidos.abril.com.br/livre/edicoes/0113/01/05.shtml

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